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O regresso ao trabalho depois de ser mãe (ou pai)

Escrevo este artigo com o assunto bem fresco na mente… regressei ao trabalho ontem, após 7 meses em casa com o Baby S. Falo apenas da minha experiência, sendo certo que cada mãe (ou pai) é única/o, cada família é única e cada situação também. No entanto, haverá semelhanças em todas as situações. Falo igualmente mais na perspectiva da mulher, pois apesar de se notar algumas diferenças actualmente, a sociedade portuguesa continua a ser uma em que prevalece a mãe a tirar a maior parte da licença. Aliás, gostaríamos muito de ouvir os vossos comentários, papás, conhecer melhor o vosso lado. Sobretudo aqueles que ficaram em casa com os bebés para as mamãs poderem ir trabalhar!

Adiante… cá em casa optou-se pelo modelo de licença partilhada, 180 dias para a mãe e 30 dias para o pai. Optámos igualmente por uma licença alargada para a mãe, de mais 30 dias, isto porque sempre definimos como objectivo a amamentação em exclusivo até aos 6 meses, conforme orientações da Organização Mundial de Saúde. Assim, teria os 6 meses garantidos. Em tom de desabafo… gostaria muito de ter tirado os 3 meses de alargada que a lei me permitia, mas a receber 25% do meu vencimento, tornar-se-ia incomportável. Isto é algo que o Estado português deveria rever, na minha opinião. Mas lá fizemos o sacrifício de apenas receber 25% do meu vencimento durante um mês e ainda gozei um mês de férias. Sendo assim, fiquei em casa 7 meses com o meu baby.

E ontem regressei ao trabalho. É um momento que marca as nossas vidas, sem dúvida. Durante o tempo em que estamos com os bebés em casa, estamos numa espécie de “bolha” em que a vida lá fora é diferente. Os horários são outros, as rotinas (ou falta delas) são outras, estamos totalmente dedicados a este novo ser, com tudo o que isso implica. Para algumas mães, o regresso ao trabalho é sinónimo de liberdade, de voltar a adquirir independência, de voltar a ser “humana”. De se voltar a arranjar e poder conversar com adultos. E isto não quer dizer de forma alguma que gostam menos dos bebés! Para outras, é um momento fracturante, de quase rotura, em que têm de deixar o seu bebé ao cuidado de outra pessoa, um familiar, um berçário, uma ama. Receiam o dia, o sofrimento é muito e o sentimento de culpa também. Aliás, o sentimento de culpa é algo que acompanha a mãe sempre. Culpa de estar com o bebé e negligenciar outras áreas, culpa de não estar com o bebé por estar a trabalhar ou a cuidar de si, culpa, culpa, culpa. Isto é um ciclo que deve ser interrompido! Cada mãe faz o melhor que pode com as ferramentas que tem e está constantemente a ser bombardeada com “conselhos” de outras pessoas que, francamente, não têm nada a ver com o assunto. Se me senti culpada de o deixar com as avós (em sistema tandem, foi o que se arranjou para que toda a gente ficasse feliz)? Não. Porque fiz um grande trabalho de aceitação. Posso mudar a situação de ter de regressar ao trabalho? Não. Então porque haveria eu de me aborrecer com o que não tenho o poder de mudar? Se gostaria de estar mais com ele? Claro que sim! No entanto, tenho bem presente que uma mãe tranquila e feliz é uma mãe que transmite tranquilidade ao seu filho; uma mãe que satisfaz as necessidades do seu filho. E eles são resilientes. Ficamos nós com o coração mais destroçado do que eles, que estão agora a conhecer o mundo e tudo é uma experiência e novidade!

Ao final do dia (vá, horário de amamentação e hora de almoço de uma hora e meia…) estou completamente focada nele. Sei que sou privilegiada. Fiquei bastante tempo com ele em casa e tenho um trabalho que não questiona sequer o requerimento para o horário de amamentação. Em que tenho bastante liberdade. Sei que sou privilegiada pois sei que o meu bebé precioso está com avós que o adoram, que o tratam com carinho e sei sempre o que está a fazer. Sei que sou privilegiada, pois não sofri o martírio de ter de introduzir a alimentação complementar aos 4 meses, à pressão, por ter de ir para um berçário. Pude fazer tudo calmamente e com tranquilidade, introduzir os alimentos aos poucos e continuar a amamentar. Se não comer hoje, não há problema, come amanhã. Enquanto houver mama, não há preocupação. E assim se deu. Na altura de passar para as avós, come lindamente. Quando está com a mãe, mama em livre demanda. Um pequeno à parte, notei que na véspera de eu ir trabalhar, talvez por transmitir um pouco de ansiedade e pela dificuldade em adormecer (minha), ele solicitou-me mais vezes durante a noite. Mamava durante um minuto, por vezes nem isso, e de seguida virava-se para o lado e continuava a dormir. Nitidamente a pedir o aconchego da mãe. É incrível como eles sentem, não é?

Portanto, no primeiro dia de regresso ao trabalho lá “testei” uma nova rotina. Acordar mais cedo, deixar o baby na cama com o pai enquanto me arranjo, tomo um bom pequeno-almoço, passeio o cão… depois mudar a fralda, vestir, brincar com o Baby S e dar-lhe de mamar antes de ir trabalhar. Aquele sorriso logo de manhã, que delícia! Uma nova rotina a incorporar também: como temos tarifário bi-horário, agora programo a máquina para lavar as fraldas de madrugada, sendo que tenho de as estender quando acordo. Uma rotina que agora se incorpora noutra.

E a introdução de rotinas devido ao regresso de trabalho é algo muito positivo, a meu ver. Prepara-nos para o que aí vem, com horários para dar a comida, a escola, as actividades com os pequenos. Ironicamente, a sensação que tenho é que agora terei mais tempo. Pois o meu horário sou eu que defino, e não aquele pequeno ser que quer mamar JÁ. Que quer brincar JÁ. Que quer atenção JÁ. Há outra pessoa a satisfazer essas necessidades e eu tenho tempo para satisfazer as minhas. Tenho de referir o apoio do pai. O Mr. B é um parceiro espectacular que me apoia em tudo. A entreajuda em tudo é fundamental e sem ele não teria sido possível chegar onde cheguei, há que reconhecer o mérito. Mais deste assunto noutro artigo 😉

Talvez não tenha ficado desejosa de regressar ao trabalho pois sempre me mantive activa e em contacto com outras pessoas. Ia à ginástica pós-parto três vezes por semana, fazia caminhadas, almoçava (e lanchava) no Sem Espiga, almoçava com amigas, com familiares. Sempre com o Baby S colado a mim de alguma forma (pano, mei tai, mochila). No outro dia comentaram-me no Sem Espiga “Que bom! O bebé sentado na cadeira e a mãe já pode comer à vontade”. Ah, pois é J

Como me senti ontem a vir para o trabalho? A expressão que mais se adapta poderá ser “Twilight Zone”. Porquê, perguntam vocês? Porque tive a sensação de que estava a fazer o mesmo que fazia há 9 meses atrás (tinha estado de baixa antes do parto), sendo que agora tudo era diferente. O caminho era o mesmo, observando pequenas alterações e obras que aconteceram enquanto estive fora. Os corredores para o meu gabinete, os mesmos… a sensação de que tinha ficado parada no tempo. As perguntas constantes pelo bebé, algo que daqui a uma semana ninguém se lembra. Mas a mudança estava em mim. Agora, relativizo muita coisa. O meu comportamento é mais um de observação, de não julgamento, de dar importância apenas ao que merece a minha importância. Dizem que a maternidade nos muda? Pois muda, com certeza. O que me importa agora é a hora de regressar para o meu bebé.

E vocês? Já regressaram ao trabalho? Como foi a experiência? Ainda não voltaram? O que acham que vai mudar?

Mafalda Mello – Especialista em beleza e alternativas sustentáveis do Centro Pré e Pós Parto

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